A Terapia Estratégica Breve

 Essa abordagem fundamenta-se na premissa de que os problemas do paciente só persistem se forem mantidos pelo comportamento atual das pessoas que interagem com o paciente e seus problemas.

Se a cadeia de interações que mantém o problema do paciente for eliminada, esse problema automaticamente desaparecerá.

Por exemplo: um membro da família pode apresentar sinais de transtorno de personalidade dependente, porém tal característica pode ser causada por demais membros tolhendo a independência e tomada de decisão desse primeiro.

Princípios gerais:

Orientação franca para o problema - os pacientes (família) buscam a terapia com queixas específicas, e o terapeuta deve assumir o compromisso de aliviar essas.

Os problemas são vistos como dificuldades de interação - com exceção de síndromes claramente orgânicas, as queixas devem ser vistas como problemas de interação que envolvem o paciente, seus amigos, colegas de trabalho, vizinhos e outros.

As transições de vida e o ciclo de vida familiar requerem grandes mudanças nos relacionamentos - as mudanças de vida dos membros da família exigem mudanças nos relacionamentos interpessoais. Por exemplo: um membro da família que sofre um acidente e fica temporariamente incapacitado, vai requerer um padrão de interação distinto com os demais membros. Um outro exemplo pode ser o desemprego de um dos membros que contribuía significativamente para a renda familiar. Um novo membro da família extensa que por algum motivo precise coabitar a mesma residência da família, também pode ser outro exemplo.

Os problemas desenvolvem-se através da superênfase ou subênfase nas dificuldades de viver - esse princípio considera que problemas podem surgir quando são corriqueiros porém enfatizados, quando por exemplo um membro da família no papel de "motorista" da família acaba ficando preso em um engarrafamento, fazendo com que a família toda o culpe por não fazer boas escolhas de trajeto e o responsabilize por prejuízos aos demais membros. A outra face desse princípio é quando a família trata uma grande dificuldade como não sendo um problema, por negação das dificuldades manifestas, como por exemplo negando a existência de aluguéis atrasados e não tomando nenhuma medida para contornar a dificuldade, o que poderia com o tempo resultar em despejo.

A continuação de um problema é resultante de um circuito de feedback positivo centrado nos comportamentos dos indivíduos que pretendem resolver a dificuldade - em muitos casos o que acontece é que uma tentativa de solução intensifica ainda mais uma dificuldade original. Dois exemplos são expostos por Watzlawick et al. (1974 apud CALIL, 1987):

Exemplo 1 - uma pessoa deprimida certamente sofrerá tentativas de ser animada por parentes e amigos. Porém geralmente o que acontece é que além do indivíduo não responder às tentativas, acaba ficando mais deprimido. O que os familiares não percebem é que suas tentativas comunicam uma cobrança ao indivíduo deprimido, como se ele pudesse ter somente alguns sentimento, ou seja (otimismo, alegria e outros) e não outros (pessimismo, tristeza, e outros). Disso resulta que para o indivíduo, o que seria somente uma tristeza temporária, passa a gerar sentimentos de fracasso, ruindade e ingratidão para com aqueles que o amam tanto e estão tentando ajudá-lo.

Exemplo 2 - uma esposa que tem a impressão que seu marido não é comunicativo o suficiente com ela pode aumentar sua quantidade de perguntas ao seu marido e buscar os mais variados artifícios para "saber mais sobre a vida dele". Em contrapartida o marido pode considerar intrusivo o comportamento da esposa, e manter cada vez mais as informações de sua vida para si mesmo, "somente para ensiná-la que não precisa saber tudo sobre sua vida". Dessa forma, a tentativa de solução utilizada pela esposa não traz a mudança desejada (comunicação) e além disso estimula ainda mais a sua preocupação e desconfianças. Quanto menos informações o marido fornece, mais ela acredita que algo que precise ser escondido está acontecendo, mais ela tenta obtê-las e mais o marido tenta escondê-las. Nessa caso o terapeuta familiar pode ser tentado a diagnosticar o comportamento da esposa como ciúme patológico, a não ser que preste cuidadosa atenção ao padrão de interação do casal, e identificar que suas tentativas de solucionar o problema, na verdade, são o problema.

Relembrando: A Teoria Geral dos Sistemas[...] fez uso do conceito de retroalimentação ou feedback que emergiu na cibernética, o qual garante a circulação de informações entre elementos do sistema. A retroalimentação pode ser negativa, o que acontece quando esse mantém a homeostase, ou positiva, ocorre quando o sistema responde pela mudança sistêmica (VASCONCELLOS, 2010 apud GOMES et al., 2014, p. 8).

Os problemas de longa duração não são indicadores de cronicidade, mas de persistência de uma dificuldade mal enfrentada - o que acontece é que muitos problemas acabam recebendo o rótulo de crônico mas o que de fato acontece é que as pessoas passaram por longos períodos fazendo esforços inadequados ou inapropriados para a resolução desses. Contudo esses problemas têm a mesma possibilidade de mudanças que aqueles rotulados como agudos.

A resolução do problema requer primeiramente a substituição de padrões de comportamento - em todo problema há um circuito de feeback que o mantém. Para que o problema seja resolvido, é necessário criar novos padrões de comportamento que vão substituir os comportamentos atuais.

Promover mudanças através de meios que funcionem mesmo que possam parecer ilógicos - esse princípio pragmático afirma que o terapeuta deve buscar soluções mesmo que ele não consiga perceber a "lógica" nessa. Por exemplo, dizer a um depressivo que, diante de determinada situação, este deveria estar ainda deprimido. Dependendo do contexto, pode ser que tal fala tenha o efeito que gerar interpretações alternativas no paciente deprimido.

"Pensar pequeno", ou seja, focalizar o sintoma apresentado pelo paciente e trabalhar em busca de alívio do mesmo - embora grandes mudanças sejam almejadas, esse princípio afirma que o terapeuta deve buscar ter foco em pequenas situações, como por exemplo, trabalhar diretamente a comunicação da família no momento da principal refeição.

Abordagem terapêutica pragmática - como dito anteriormente, esse princípio busca uma intervenção direto no sistema em tratamento, tendo em vista:

- o que ocorre no sistemas interacionais,

- como continuam funcionando e,

- como podem ser modificados.

Nesse contexto a questão "por que" é evitada.


Fontes:

CALIL, Vera Lúcia Lamanno. Terapia familiar e de casal. 8 ed. São Paulo: Summus, 1987.

GOMES, Lauren Beltrão et al . As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo. Pensando famílias, Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 3-16, dez. 2014.


EXERCÍCIOS
1 - Cite um exemplo de problema mantido pela interação de outras pessoas com o paciente.
2 - Cite um exemplo de um problema que pode ser mantido por uma dificuldade de interação.
3 - Cite um exemplo de transição de vida que requer grande mudança nos relacionamentos familiares.
4 - Cite um exemplo de superênfase em problemas cotidianos.
5 - Cite um exemplo de Feedback positivo de outras pessoas que pode estar mantendo uma dificuldade em um indivíduo da família.
6 - Cite um exemplo de um problema de longa duração que pode ter sido resultado de uma dificuldade mal enfrentada.
7 - Cite um exemplo de substituição de padrão de comportamento que pode solucionar uma dificuldade.
8 - “Pensar pequeno” é uma das premissas a terapia estratégica breve. Cite um exemplo do que poderia ser “pensar grande”.